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O Amargo Santo da Purificação em Canoas 24/04

O espetáculo de Teatro de Rua "O Amargo Santo da Purificação" será apresentado nesta quinta-feira, às 15h em CANOAS na Praça Rio Branco (em Frente a Igreja da Imaculada Conceição) no bairro Rio Branco.

Mapa do local da apresentação:




A encenação coletiva para Teatro de Rua conta a história de um herói popular que os setores dominantes tentaram banir da cena nacional durante décadas. Na seqüência de cenas o público assiste momentos importantes desta trajetória: origens na Bahia, juventude, poesia, ditadura do Estado Novo, resistência, prisão, Democracia, Constituinte, clandestinidade, Ditadura Militar, luta armada, morte em emboscada e o resgate histórico, buscando um retrato humano do que foi o Brasil no século XX. É uma história de coragem e ousadia, perseverança e firmeza em todas as convicções. A coerência dos ideais socialistas atravessando uma vida generosa e combatente, de ponta a ponta. Marighella não abdicou ao direito de sonhar com um mundo livre de todas as opressões. Viveu, lutou e morreu por esse sonho.

A dramaturgia elaborada pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz parte dos poemas escritos por Carlos Marighella que transformados em canções são o fio condutor da narrativa. Utilizando a plasticidade das máscaras, de elementos da cultura afro-brasileira e figurinos com fortes signos, a encenação cria uma fusão do ritual com o teatro dança. Através de uma estética ‘glauberiana’, o Ói Nóis Aqui Traveiz traz para as ruas da cidade uma abordagem épica das aspirações de liberdade e justiça do povo brasileiro.


Crítica:

Terreiro de consciências Críticas
Sérgio Maggio (Correio Brasiliense em 10 de abril de 2009)

A chuva não deu trégua, anteontem, ao meio dia, em Taguatinga. E foi debaixo d’agua que o grupo gaúcho Ói Nóis Aqui Traveiz montou a saga do revolucionário Carlos Marighella. Atraída pela novidade que quebrou a rotina da Praça do Relógio, dona Josefa chegou de mansinho e perguntou: 
- Meu filho, que coisa linda é essa?
- É teatro de rua. 
Ela ouviu a resposta atenta e matutou, até concluir soberana: 
- Isso é história. É cultura brasileira, anuncia a senhora, que partiu a contragosto, assim que o toró se intensificou.
A essa altura quem conseguiu transcender a chuva estava imerso na poética do espetáculo O Amargo Santo da Purificação. A praça do relógio transformou-se em campo sensível para a Tribo de Atuadores organizar o mundo maculado pela censura, torturas e violência aos direitos humanos. Nesse terreno, estabeleceu embate construído dramaturgicamente a partir de versos de Carlos Marighella. Do ventre colorido da terra miscigenada, nascia o herói revolucionário, síntese do brasileiro que gosta de música remexida, da capoeira, do candomblé. Do seio do poder, ditaduras se engendravam. Entre esses territórios, uma menina passeia com um balão vermelho, sem ser avisada que dali por diante não haveria mais lugar para os sonhos todos jogados ao rés-do-chão. 
Com trilha sonora de Johann Alex de Souza, que avança e pontua a narrativa, O Amargo Santo da Purificação traz para o tempo presente a importância de estar em estado de vigília a partir da memória histórica. Na saga do coletivo gaúcho, é reservado lugar aos verdadeiros revolucionários, arrancados do estado de direito e jogados na clandestinidade. A alegoria lúdica daqueles que sonharam em devolver ao país à liberdade é realçada pela força da cultura popular e afro-brasileira. Carlos Marighella é Xangô, que dança com seus machados pedindo justiça. As forças de opressão são gorilas brutais que avançam sobre a praça numa geringonça assustadora.
Na luta descomunal entre os dois blocos, vidas sucumbem diante da platéia de Taguatinga. De tão envolvido na história, um homem levanta as mãos ao alto quando um atuador passa diante dele com uma arma cenográfica. Depois, a sensação torna-se paralisante quando os olhos dos personagens-gorilas enfrentam impassíveis o rosto de cada um.
Donos de trabalho de corpo e voz impecável, os intérpretes-ativistas repassam diante dos espectadores a tortura, o desaparecimento, a morte de militantes. Duas bolas de aço, com mulheres dentro, são roladas praça a fora. Quem empurram são personagens de terno preto e máscaras de ratos. São cenas simultâneas e fortes, que antecedem o assassinato de Marighella. 
O corpo cai no chão, mas o mito ressuscita sob canto iorubá, entoado e dançado por Tânia Farias. Nesse exato momento, o céu nublado abre uma brecha para o sol forte bater na praça do relógio. A chuva cessa. Parecia tudo combinado nesse terreiro de consciências críticas. Um foguete explode e papéis com os nomes dos mortos e desaparecidos políticos da ditadura brasileira voam ao chão (Honestino Guimarães deveria estar entre tantos). Tudo ultrapassa a magia do teatro. Estabelece-se a certeza. Precisamos urgentemente pôr o golpe de 1964 no seu devido lugar na história do Brasil, para que nunca mais algo parecido nos assombre. Em Taguatinga, o teatro cumpriu esse papel.