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Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz - 35 anos!!!


Criada em março de 1978 a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz completa 35 anos de trajetória. Comemorando esta data o grupo estreará em setembro, na Terreira da Tribo, a sua mais nova Criação Coletiva para Teatro de Vivência “Medeia Vozes”. Após temporada em Porto Alegre o espetáculo será apresentado em São Paulo e Recife.
A Tribo ainda lançará o livro “Ói Nóis Aqui Traveiz – 35 anos de Ousadia e Ruptura” e o documentário para televisão “Raízes do Teatro”.
A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz também foi um dos grupos escolhidos para representar o teatro brasileiro em Portugal. Em maio o grupo apresenta o espetáculo de Teatro de Rua “O Amargo Santo da Purificação” nas cidades de Lisboa e Coimbra.

Nilton Silva
31 DE MARÇO de 1978

Durante dois meses os atuadores do Ói Nóis Aqui Traveiz trabalharam exaustivamente nas reformas do prédio localizado na Rua Ramiro Barcelos, 485. À meia-noite de sexta-feira, 31 de março, com propósitos irreverentes, a Tribo estreou o seu primeiro espetáculo. A data foi escolhida em contraposição ao dia que marcava na história do Brasil o golpe civil militar de 1964.

Na imprensa de 1978, lia-se o manifesto do grupo:

Pedra nas veias para tentar criar uma demonstração coerente da barbárie. A selvageria como uma relação entre 'civilizados'. A humilhação como coragem de suportá-la.
Pedra nas veias para buscar um acontecimento teatral que negue a desumanização do indivíduo e denuncie a descaracterização consumista.
Pedra nas veias para deformar aquilo que até ontem chamávamos teatro.
Pedra nas veias para expor cruamente, no espaço cênico, uma figuração crítica do cotidiano.
Pedra nas veias para encontrar no ator a sua desilusão, a sua frustração, a sua raiva, os seus pesadelos.
Pedra nas veias para não fazer concessões ao esteticismo burguês, nem aos pregões do teatro-palavra.
Pedra nas veias para ir um pouco adiante da cultura de resistência. Para ousar opor-se.
Durante três décadas a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz construiu uma trajetória que marcou definitivamente a paisagem cultural do Brasil. Com a iniciativa de subverter a estrutura das salas de espetáculos e o ímpeto de levar o teatro para a rua, abriu novas perspectivas na tradicional performance cênica do sul do país . A determinação em experimentar novas linguagens a fez seguir caminhos nunca trilhados por aqui. Com base nos preceitos de Antonin Artaud e do teatro revolucionário, investiga com rigor todas as possibilidades da encenação. Na busca de uma identidade, desenvolveu uma estética própria, fundada na pesquisa dramatúrgica, musical, plástica, no estudo da história e da cultura, na experimentação dos recursos teatrais a partir do trabalho autoral do ator, estabelecendo um novo modo de atuação.        Seu centro de produção, a Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, ocupa lugar de destaque entre os espaços culturais do Estado, sendo igualmente apontada como uma referência de âmbito nacional. Funciona como escola de formação de atores e, principalmente, como ponto de aglutinação de pessoas e profissionais dos mais diversos segmentos, fomentando a criação artística em diferentes áreas. A organização da Tribo é baseada no trabalho coletivo, tanto na produção das atividades teatrais, como na manutenção do espaço. Para a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz o teatro é instrumento de desvelamento e análise da realidade; a sua função é social: contribuir para o conhecimento dos homens e o aprimoramento da sua condição.


Espetáculo: Medeia Vozes

Com estreia prevista para setembro, “Medeia Vozes” é a mais nova Criação Coletiva da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.
O espetáculo que parte do mito de Medeia, tem como principal referência o romance homônimo de uma das mais notáveis escritoras alemãs, Christa Wolf. 

Em Medeia Vozes, Christa Wolf toma uma versão antiga e desconhecida do mito, rejeitando a efabulação de Eurípedes e a imagem de mãe infanticida que foi imposta à consciência ocidental, concedendo a Medeia a possibilidade de se afirmar como mulher e de revelar como foi vítima das necessidades e dos valores dos homens. Por mais de dois mil anos, Medeia, uma das mais poderosas mulheres da mitologia grega, é acusada de vários crimes, tais como o fratricídio, o infanticídio e o envenenamento de Glauce, mas Christa Wolf vem negar que Medeia tenha cometido algum destes crimes. A partir do mito de Medeia e da versão de Christa Wolf a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz está em processo de criação de uma encenação que vai reflitir sobre a violência e a questão feminina, ambas profundamente inter-relacionadas. O mito é questionado e reelaborado de maneira original, para analisar o fundamento das ordens de poder e como estas se mantêm ou se destroem. Culturas que entram em crise excluem pessoas e convertem-nas em vítimas expiatórias. Na cultura ocidental é típica a marginalização do estranho/estrangeiro e do feminino. Por isso, é rechaçada a estremecedora visão de Medeia que nos tem chegado através da história como assassina de seus próprios filhos, ciumenta e bruxa. A Medeia pacifista do Ói Nóis Aqui Traveiz demonstra a inutilidade de todo processo bélico.
A partir de “Medeia Vozes” - o quarto espetáculo do Projeto “Raízes do Teatro” que já trabalhou com mitos que resultaram em espetáculos marcantes na trajetória do grupo - a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz dá continuidade a linha de investigação sobre teatro ritual de origem artaudiana e performance contemporânea.
A encenação de MEDEIA VOZES faz parte da vertente que o grupo intitula Teatro de Vivência, onde o espectador é convidado não a assistir a um espetáculo, mas a vivenciá-lo através de seus cinco sentidos, de maneira interativa com os atores, potencializando radicalmente a capacidade transformadora do teatro.
O processo de pesquisa da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz tem o patrocínio do Ministério da Cultura e Petrobras.


Livro: Ói Nóis Aqui Traveiz – 35 anos de Ousadia e Ruptura

No ano em que o grupo comemora o seu trigésimo quinto aniversário, o selo “Ói Nóis na Memória” lança a sua mais nova publicação “Ói Nóis Aqui Traveiz – 35 anos de Ousadia e Ruptura”. O livro organizado por Paulo Flores – um dos fundadores do Ói Nóis Aqui Traveiz - registra a trajetória da Tribo a partir de uma pesquisa histórica com críticas, materiais jornalísticos, um rico acervo de imagens fotográficas e depoimentos de personalidades do teatro brasileiro e latino-americano.
O livro que pretende contribuir para a manutenção da história do teatro brasileiro traz aos leitores registros memoráveis de espetáculos como: Fim de Partida, Ostal, Hamlet Máquina, A Missão - Lembrança de Uma Revolução dentre outros, assim como os espetáculos que tomaram as ruas, trazendo o lúdico e a reflexão crítica para os transeuntes, desde “A História do Homem que Lutou sem Conhecer o seu Grande Inimigo” até o atual “O Amargo Santo da Purificação”.
O Selo Ói Nóis na Memória é uma coleção de livros, dvd’s e revistas que registram a trajetória estética e política da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Taveiz e do Teatro Gaúcho.
A edição do livro “Ói Nóis Aqui Traveiz – 35 anos de Ousadia e Ruptura” foi contemplada no edital do Fundo de Apoio à Cultura da SEDAC/RS.


Documentário: Raízes do Teatro

Ainda dentro da programação de 35 anos, o Ói Nóis Aqui Traveiz e a Artéria Filmes lançam o documentário Raízes do Teatro com direção de Pedro Isaias Lucas.
O título do documentário é o nome do projeto criado pelo Ói Nóis Aqui traveiz em 1987 para sistematizar o estudo das origens ritualísticas do teatro. O filme aborda os mitos que resultaram em três espetáculos do Ói Nóis Aqui Traveiz: Antígona, Ritos de Paixão e Morte (Prêmio Açorianos 1990), Missa para Atores e Público sobre a Paixão e o Nascimento do Dr. Fausto de Acordo com o Espírito de Nosso Tempo (Prêmio Açorianos 1994) e Aos Que Virão Depois de Nós – Kassandra in Process (Prêmio Açorianos 2003). Atualmente o Ói Nóis Aqui Traveiz está em processo de criação do quarto espetáculo nesta vertente, que é sobre o mito de Medeia.
O documentário Raízes do Teatro foi contemplado no edital do Fundo de Apoio à Cultura da SEDAC/RS.

Arquivo da Tribo