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A “imaginação criadora” é uma das condições para abrir perspectivas, esperanças de oxigenação para o futuro!


O atuador Paulo Flores vivencia Meyerhold na próxima montagem da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.

MEYERHOLD

“No centro de tão fortes tensões políticas e estéticas, o homem
Meyerhold foi transfigurado, tornando - se uma figura legendária,
ilustrando a vitória póstuma do artista sobre o poder que 
o condenou a morte ignominiosa.” (Gérard Abensour)

 Vsevolod Emilevich Meyerhold (1874-1940)

            Meyerhold, a nova encenação da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, é uma adaptação livre da peça “Variaciones Meyerhold”(2005) do dramaturgo, ator e psicanalista argentino Eduardo Pavlovsky. Ao completar o seu quadragésimo ano de trajetória, a Tribo homenageia dois Mestres da cena contemporânea e do teatro latinoamericano: Meyerhold e Pavlovsky. No centro da encenação, a figura de Meyerhold, célebre ator, diretor e teórico russo, cujo discurso inovador e revolucionário o transformou em personalidade de relevância no panorama teatral do início do século XX. Grande questionador das formas acadêmicas da criação teatral, a postura de Meyerhold confronta com as ideias de seu contemporâneo Stanislavski, com quem manteve uma relação ao mesmo tempo estreita e distante. A encenação reúne aspectos do discurso artístico do pensador russo e os relaciona com momentos dramáticos de sua trajetória pessoal, sujeito ao cárcere, tortura e humilhações até o seu brutal assassinato pelas autoridades da Rússia Stalinista.
                Vsevolod Emilevich Meyerhold (1874-1940) é, sem dúvida um dos nomes-chave da encenação e da teoria teatral de todos os tempos. Ligado num primeiro momento ao Teatro de Arte de Moscou, dirigido por outro grande do teatro russo: Stanislavski. Abandonou cedo a via naturalista para indagar em sua própria concepção dramática – que denominou “teatro da convenção consciente” (1913) – e seus trabalxhos experimentais lhe permitiram desenvolver a teoria da biomecânica (1922), um rigoroso método de preparação do ator que tenta explorar ao máximo suas possibilidades físicas e psíquicas. Meyerhold elaborou também uma dramaturgia revolucionária e instaurou os princípios do moderno conceito de montagem. Demorou um tempo para compreender a revolução, mas quando o fez seu ardor e seu entusiasmo foram enormes e ingressou no Partido Comunista – chegando a ser uma figura proeminente como militante cultural durante a revolução. A peça “Variaciones Meyerhold” tenta captar a forma em que este extraordinário homem de teatro nos “afeta” hoje. O que mais nos envolve. O que mais nos comove. A luta ardorosa de certos princípios de seu teatro que soube defender até o final e que expôs no Primeiro Congresso de Diretores (1939), onde foi extensamente criticado por não se adaptar ao realismo socialista – a estética que predominava durante o stalinismo. Nesse Congresso – sua última aparição pública – Meyerhold defendeu com veemência o direito à liberdade de expressão e de     pesquisa como armas revolucionárias. Disse ademais nessa ocasião que a imaginação era revolucionária e que a verdade e a liberdade eram as armas revolucionárias por excelência. Fez uma crítica duríssima ao realismo socialista como estética teatral, qualificou-a em seu inflamado discurso de medíocre e de carente de talento. Acusou seus críticos e adversários de “ter cometido o crime de afogar a imaginação do melhor teatro russo – o melhor teatro do mundo – transformado hoje em um teatro extremamente tedioso e carente de imaginação”. Pouco tempo depois, em junho de 1939, Meyerhold foi detido. Dias depois, sua mulher Zinaida Raikh – coreógrafa, desenhista e atriz – foi encontrada degolada em seu apartamento de Moscou. Meyerhold foi brutalmente torturado aos 67 anos de idade na prisão, ficando surdo e semicego. Inventaram para ele acusações de conspiração contra o poder soviético – pertencer a organizações trotskistas e ser agente de potências estrangeiras – e foi obrigado a confirmar estas acusações a partir de humilhações e tortura. Quando, mais tarde, Meyerhold pôde ler as declarações contra si assinadas por ele, desmentiu-as todas – obtidas à força de pressão física e moral em interrogatórios que duravam até 20 horas por dia – e solicitou uma entrevista com o juiz, que nunca foi concedida. Escreve uma carta a Molotov explicando-lhe sua situação – nunca respondida. Meyerhold foi fuzilado em fevereiro de 1940. Foi um crime cultural. Seu nome foi apagado dos manuais de história e publicações até 26 de novembro de 1955 quando foi reabilitado. Em 1968, seus textos foram publicados em russo e em 1990 – no 50º aniversário de sua morte – lhe foi prestada uma singela homenagem no Yermolava Theatre. Até o descobrimento de sua tumba em 1991 – no Don Monestery de Moscou – estava enterrado como indigente. Por tudo isso nos lembramos dele: como um dos homens mais importantes do teatro e por seu brutal assassinato e o de sua mulher, durante o stalinismo. 

Eduardo “Tato” Pavlovsky (1933-2015) ator, autor, médico, psicodramista  argentino é um dos principais nomes do teatro latinoamericano e mundial. Começo a escrever para teatro no início dos anos 1960. Desde então criou várias peças como “Senhor Galíndez”, “Telerañas”, “Potestad”, “Passo de dos”, “Rojos Globos Rojos”, “Poroto” e “La Muerte de Marguerite Duras”. Criador do Movimento Psicodramático na América Latina. Em 2004, recebeu o prêmio Dionísio de Honra durante o III Festival de Teatro Latino de Los Angeles, pela importância de sua obra em toda América Latina. A sua obra percorre diferentes fases: teatro político metafórico, estética da multiplicidade, micropolítica da resistência. Trata-se de um teatro de balbucios e não de verdades absolutas. Escrever teatro, para Pavlovsky, não é fazer denúncias, propor ideias, mas afirmar sempre a necessidade de resistir e de alimentar ideais. Gestos que se fazem a partir de perdas e derrotas vividas e não de grandes discursos. A função da resistência é produzir subjetividades diferentes das habitualmente impostas, instaurando novos territórios de vida e alegria, inovando afetos e solidariedades. O teatro de Pavlovsky é a reiteração poética de que devemos mais do que nunca ser utópicos. E a “imaginação criadora” é uma das condições para abrir perspectivas, esperanças de oxigenação para o futuro. “Não há nada mais terrível para o ser humano do que perder a capacidade de sonhar com seus projetos existenciais.” O teatro é o espaço do humano em cena. É um ato de presença a partir do qual pessoas, audácias, invenções, imaginações, riscos e insubordinações podem se entrelaçar para escapar da homogeneização e proclamar que o “teatro não está em crise, ele é do contra”.


“Tato” Pavlovsky (1933-2015)