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A
Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz vai participar da Quinta
Edição do Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas,
promovido pelo SESC na Baixada Santista (São Paulo), com a encenação
de “Caliban – A Tempestade de Augusto Boal”. As apresentações
serão nos dias 7 de setembro na Praça Narciso de Andrade na cidade
de Itanhaém, 8 de setembro na Avenida Castelo Branco (na altura do
Espaço Conviver-Boqueirão) na cidade de Praia Grande e 9 de
setembro no Emissário na cidade de Santos, sempre às 16 horas.
Antes
e após o Mirada a Tribo realiza um circuito de apresentações em
Campinas e na capital São Paulo promovido pelo SESC/SP. Em Campinas
mostra a “Desmontagem Evocando os Mortos-Poéticas da Experiência”,
às 20 horas, no Espaço Arena no dia 4/9, e “Caliban – A
Tempestade de Augusto Boal”, às 16 horas, na Praça da Catedral
Metropolitana no dia 5/9; e em São Paulo a “Desmontagem Evocando
os Mortos-Poéticas da Experiência” acontece no 11 de setembro, às
18 horas no SESC Carmo (Rua do Carmo 147), e “Caliban – A
Tempestade de Augusto Boal”, às 15 horas n o dia 12/9, no SESC
Parque Dom Pedro II (Praça São Vito).
Reflexões
sobre violência, política e memória guiam os 41 espetáculos que
fazem parte da quinta edição do Mirada - Festival Ibero-Americano
de Artes Cênicas. A programação reúne companhias de 13 países.
Só a Colômbia, homenageada desta edição, é responsável por nove
atrações. Entre as peças, em sua maioria inéditas no
Brasil, há destaques como o Teatro Petra, de Bogotá, que encena
“Labio de Liebre”, “Eu Estava em minha Casa e Esperava que a
Chuva Chegasse”, releitura de Antunes Filho para texto do francês
Jean-Luc Lagarce, e “El Bramido de Dusseldorf”, do uruguaio
Sergio Blanco. Programação completa em: mirada.sescsp.org.br/
Impulsionado
pela ideia de que “somos todos Caliban” a Tribo de Atuadores Ói
Nóis Aqui Traveiz criou a encenação para Teatro de Rua “Caliban
– A Tempestade de Augusto Boal”. A encenação analisa
criticamente a “tempestade” conservadora que hoje sofre a América
Latina, e especialmente o grande retrocesso nos direitos sociais e na
luta pela autonomia econômica, política e cultural que vivemos no
Brasil. Momento fecundo para retomar Caliban enquanto representante
das opressões advindas deste encontro colonial, colocando em foco o
discurso de resistência evidenciado nesta figura. Agora Caliban não
é mais somente o colonizado. Ele é a representação dos oprimidos
de toda sorte que residem neste país chamado Brasil. Para o Ói Nóis
Aqui Traveiz encenar “Caliban – A Tempestade de Augusto Boal” é
gerar outros discursos, histórias e narrativas, produzir e
reconhecer outros lugares de enunciação. Caliban é a reivindicação
da legitimidade do “diferente”. Caliban é símbolo da identidade
latino-americana e da resistência ao neo-colonialismo.
A
partir de meados do século XX, Caliban, personagem da peça “A
Tempestade” de William Shakespeare, escrita em 1611, tem sido
adotado por diversos autores do Caribe e América Latina como ícone
cultural, sendo considerado um emblema das populações originárias
colonizadas. Caliban, anagrama de canibal, na peça do bardo inglês
é o personagem nativo da ilha tropical onde Próspero, duque de
Milão que foi traído e usurpado de seu poder, e sua filha Miranda
vão encontrar abrigo. Caliban é escravizado e segue as ordens de
Próspero, que se apresenta como um benfeitor, por lhe perdoar a vida
e lhe ensinar sua língua. Shakespeare apresenta Caliban como um ser
humano inferior em todos os sentidos. Em seu livro “Caliban e
outros ensaios” o escritor cubano Roberto Fernández Retamar,
diretor da Casa de las Americas, vai ressaltar a potência da figura
de Caliban para assinalar o passado de exploração e escravidão de
uma América ainda desejosa por lutar contra o domínio imperialista.
Ao explicitar que somos todos Caliban, Retamar nos chama atenção
para as implicações de se repensar a história a partir do “outro
lado”, do olhar dos vencidos, assumindo a condição de Caliban. E
é sobre a influência de Retamar que o diretor e dramaturgo Augusto
Boal (1931-2009), conhecido mundialmente pelos princípios e as
técnicas do Teatro do Oprimido, vai escrever a sua versão de “A
Tempestade”, afirmando que a peça é uma resposta ao clássico de
Shakespeare. Escrita enquanto Boal estava no exílio, em 1974,
período em que os movimentos sociais latino-americanos sofriam uma
grande derrota frente ao imperialismo estadunidense e eram
terrivelmente reprimidos pelas ditaduras civil-militares. Na versão
de Boal a história é vista pela perspectiva de Caliban, metáfora
dos seres humanos originários da América que foram dizimados e
escravizados pelos invasores colonizadores representados pelo
personagem Próspero. O duque de Milão é tão perverso quanto os
nobres europeus que usurparam o seu poder. Todos representam a
violenta dominação colonial e cultural. Sua filha Miranda e o
príncipe de Nápoles, Fernando, fazem uma aliança não por amor
como na peça de Shakespeare, mas sim por interesses capitalistas.
Ariel, o “espírito do ar”, representa o artista alienado, mescla
de escravo e mercenário a serviço da ordem constituída. Somente
Caliban se revolta até ser finalmente, derrotado. Os vilões
permanecem na “ilha tropical” para escraviza-lo. Mesmo escravo,
Caliban resiste.
Foto Pedro Isaias Lucas |
Na “era Trump” em que estamos vivendo a política do ódio e
da intolerância se espalha por toda parte, disseminando o
xenofobismo, o racismo, a misoginia e a homofobia. Quando no nosso
país, a democracia é golpeada e se instala no poder um governo
ilegítimo, é imprescindível para o Ói Nóis Aqui Traveiz estar
nas ruas. A Tribo, sem trair a sua vocação artística, quer com o
seu Teatro de Rua instaurar a alegria e a indignação nos seus
milhares de espectadores. Como em todo bom teatro político, o
público deve perceber que os símbolos da obra remetem à realidade,
para despertar neles – emotiva e racionalmente – uma resposta
crítica fora da ficção. Para seduzir o público anônimo e
passageiro das ruas das cidades, a criação coletiva do Ói Nóis
Aqui Traveiz investe em um movimento de cena dinâmico com
personagens excêntricos, utilizando adereços e figurinos
impactantes com máscaras e bonecos. A narração é toda contagiada
pela música, o canto e a dança. Mesclando os movimentos do coro com
ações acrobáticas, cenas de humor irreverente e personagens
clownescos com uma narrativa épica, “Caliban – A Tempestade de
Augusto Boal” reflete alegoricamente a nossa sociedade.
O
outro trabalho em repertório da Tribo é a “Desmontagem Evocando
os Mortos-Poéticas da Experiência”. “Evocando
os Mortos - Poéticas da Experiência” refaz o caminho da atriz na
criação de personagens emblemáticos da dramaturgia contemporânea.
Esse trabalho constitui um olhar sobre as discussões de gênero,
abordando a violência contra a mulher em suas variantes, questões
que passaram a ocupar centralmente o trabalho de criação do grupo
Ói Nóis Aqui Traveiz. Ao seguir a linha de investigação sobre
teatro ritual de origem artaudiana e performance contemporânea, a
desmontagem de Tânia Farias propõe um mergulho num fazer teatral
onde o trabalho autoral da atriz condensa um ato real com um ato
simbólico, provocando experiências que dissolvam os limites entre
arte e vida e ao mesmo tempo potencializem a reflexão e o
autoconhecimento.
“Desmontagem”
é um conceito relativamente novo no âmbito das artes cênicas,
constitui uma análise e desconstrução do próprio trabalho
artístico e, ao mesmo tempo, é obra de arte. Tânia Farias é uma
das pioneiras dessa pesquisa inovadora no Brasil e tem sido
responsável pela disseminação dessa investigação do trabalho de
ator em todo o país.
Através
da ativação da memória corporal, a atriz faz surgir e desaparecer
as personagens, realizando uma espécie de ritual de evocação de
seus mortos para compreensão dos desafios de fazer teatro nos dias
de hoje. Tânia Farias revisita os processos de criação que deram
sopro a três papeis femininos e um masculino. Em ordem cronológica:
Ófelia
em
Hamlet Máquina (1999), a partir da peça homônima do alemão Heiner
Müller; Kassandra
em
Aos Que Virão Depois de Nós – Kassandra In Process (2002), a
partir da novela Cassandra, da alemã Christa Wolf; Sasportas
em
A Missão – Lembrança de uma Revolução (2006), novamente a
partir de texto de Müller; e Sophia
em
Viúvas – Performance sobre a ausência (2011), a partir de peça e
da novela Viudas, do chileno Ariel Dorfman. A “Desmontagem :
Evocando os Mortos - Poéticas da Experiência” já se apresentou
em diversas cidades brasileiras e participou de festivais
internacionais em Cuba e na Argentina.
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