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Para
comemorar esta data tão importante, a Tribo de Atuadores Ói Nóis
Aqui Traveiz participa do 25º Porto Alegre em Cena, em uma noite de
celebração e compartilhamento de seus ideais junto ao público da
nossa cidade, uma noite de performances preparadas pela Tribo para
serem partilhadas e vivenciadas, num ritual junto ao público nesta
noite de festa.
É
neste sábado, dia 22 de setembro, às 23h59, no Centro Municipal de
Cultura (Av. Erico Verissimo 307), com entrada franca.
Foto: Fabiano Ávila |
TEATROFAGIA E ANARQUIA
40 anos da Tribo
Em
31 de março de 1978 estreava “A Divina Proporção” e “A
Felicidade Não Esperneia Patati Patatá”, duas peças curtas que
formavam a primeira encenação do Teatro Ói Nóis Aqui Traveiz, na
Rua Ramiro Barcelos. Ambas abordavam o processo de desumanização
que o homem sofre pela violência da sociedade consumista. Viviam-se
ainda os anos de intolerância e repressão policial da ditadura
civil-militar que se instalara no Brasil em abril de 1964. Era um
momento de grande ebulição social com a volta das grandes
manifestações de rua exigindo liberdades democráticas e anistia
aos presos e exilados políticos. O núcleo que deu origem ao Ói
Nóis Aqui Traveiz queria um teatro comprometido com o momento
político vivido no país. O grupo nascia com a ideia de um teatro
concebido fora dos padrões convencionais. Estruturado como coletivo
autônomo o Ói Nóis Aqui Traveiz começou a desenvolver a sua
expressão a partir da criação coletiva, do contato direto entre
atores e espectadores e do uso do corpo em oposição ao primado da
palavra. O nome em grafia propositadamente iletrada era um aviso de
que o grupo se propunha a tomar atitudes inusitadas e contestadoras.
Esse teatro de transgressão e invenção levantou muita polêmica, e
na retrospectiva da década, a crítica citou o grupo como o fato
mais importante do teatro gaúcho. Fundamentado nos princípios de
solidariedade, autogestão e anarquismo, no início dos anos 1980 o
Ói Nóis Aqui Traveiz adotou o termo Tribo de Atuadores, que sugere
uma nova sociedade, baseada na vivência em comunidade e na
valorização das relações diretas e da responsabilidade
individual. É nesse momento que nasce o teatro de rua da Tribo com
as primeiras intervenções cênicas em manifestações ecológicas
e pacifistas. A partir daí o Ói Nóis Aqui Traveiz não saiu mais
da rua. Antimilitarismo, denúncia de agrotóxicos, luta contra o
racismo, defesa dos povos indígenas; em todos os momentos de
mobilização política, em atos de repúdio à injustiça social e à
violência institucionalizada, a Tribo estava presente, em defesa
terna e intransigente de uma humanidade criativa e solidária.
Em
1984 os atuadores constituem a Terreira da Tribo, hoje situada na Rua
Santos Dumont, no bairro São Geraldo. Um espaço cultural aberto a
todo tipo de manifestações artísticas. O nome deste espaço
feminino, telúrico e anarquista vem de terreiro, lugar de encontro
do ser humano com o sagrado. Com o passar do tempo a Terreira da
Tribo se transforma em Centro de Experimentação e Pesquisa Cênica
e Escola de Teatro Popular. Partindo do princípio de que toda pessoa
tem um potencial criador, o espaço oportuniza a todos os
interessados o contato com o fazer teatral. Oferece à cidade
oficinas de iniciação teatral, pesquisa de linguagem, formação e
treinamento de atores, alem de seminários e ciclos de discussão
sobre a cena contemporânea, criando um processo de permanentes
descobertas, disseminando o conhecimento e o estímulo ao
aprendizado, desenvolvendo o espírito do trabalho coletivo,
valorizando a diferença, revisando conceitos estéticos, buscando
sempre a essência do teatro. Além do trabalho pedagógico
desenvolvido na Terreira, os atuadores criaram a ação Teatro Como
Instrumento de Discussão Social levando oficinas para diversos
bairros populares da região metropolitana. O teatro criado na
periferia passou a ser um poderoso aliado na permanente luta em favor
da construção da cidadania. Constituindo na prática um laboratório
para imaginação social.
Tendo
como base o Teatro Ritual de Antonin Artaud e o Teatro Épico de
Bertolt Brecht, a Tribo bebeu de diversas fontes cênicas durante a
sua trajetória, como o teatro revolucionário do Living Theatre, o
trabalho de ações físicas dos mestres europeus Stanislavsky,
Meierhold, Grotowski e Eugênio Barba, e dos brasileiros Augusto Boal
(Teatro do Oprimido), José Celso Martinez Corrêa (Teatro Oficina) e
Amir Haddad (Tá Na Rua). Nesses quarenta anos criou encenações que
marcaram o teatro brasileiro como "Ostal",
"Antîgona Ritos de Paixão e Morte",
"Fausto",
"A Saga de Canudos", "Kassandra In Process", "O
Amargo Santo da Purificação" e
"Medeia Vozes".
Nesse grave momento
que o nosso país vive, onde novamente a sombra do fascismo paira
sobre os brasileiros, o Ói Nóis Aqui Traveiz reafirma as suas
ideias e práticas coletivas em defesa da democracia, liberdade e
justiça social. A Tribo continuará, nos próximos anos,
compartilhando a sua experiência com o maior número de pessoas
possível, através das suas encenações e da prática
artístico-pedagógica. Certamente encontrará, como até aqui tem
sido, os mais diferentes obstáculos para realizar o seu teatro de
ousadia e ruptura. Mas resistir é manter abertos os vínculos com o
futuro ainda sem nome e informe.
Paulo
Flores
Publicado
no jornal Correio do Povo no dia 31.03.2018
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