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Nesta
segunda-feira, dia 8 de abril, às 20 horas, o Cineclube daTerreira
da Tribo (rua Santos Dumont, 1186) exibe a obra-prima do cineasta
italiano Michelangelo Antonioni “O Deserto Vermelho”, seguido de
comentários do crítico Marcus Mello (Cinemateca Capitólio, Revista
Teorema), com entrada franca. A exibição de “O Deserto Vermelho”
faz parte da programação “Terreira da Tribo Eu Apoio!” - que é
uma campanha de financiamento coletivo e permanente para a manutenção
do espaço cultural Terreira da Tribo, através de uma plataforma
online. As pessoas interessadas em colaborar na campanha podem fazer
uma assinatura mensal no link www.benfeitoria.com/terreiradatribo.
O
Deserto Vermelho foi
o primeiro filme colorido de Antonioni, produção de 1964, e até
hoje reverenciado pelo uso da cor no cinema. No filme Giuliana
(Monica Vitti) esposa de Ugo (Carlo Chionetti) com qual ela tem um
filho habita a cidade industrializada em Ravenna, na Itália. Ela
sofreu um acidente de carro e acabou de sair da clínica mas ainda
não se recuperou do choque que ela teve e se encontra em constante
estado de agonia. Ela conhece o engenheiro Corrado (Richard Harris),
amigo de seu esposo que por interesse sexual logo se torna amigo de
Giuliana e tenta a ajudar com seus problemas. Filme com uma trilha
sonora agonizante e explorando alguns dos temas mais recorrentes
durante a carreira de Antonioni: a solidão e a incomunicabilidade do
ser humano.
As
preocupações ecológicas que o filme expressa são mais pertinentes
hoje que na época do seu lançamento. A
pergunta que o filme não faz diretamente, mas faz aparecer no
absurdo de cada seqüência, é: qual é o lugar do humano numa
sociedade ocupada cada vez mais pelas operações industriais, pela
especialização e segmentação do trabalho e pela ideologia
utilitarista reinante?
Em
O
Deserto
Vermelho,
a angústia da alma dos três filmes anteriores( A
Aventura,
A
Noite e
O
Eclipse)
ganha materialidade e surge no mundo. Através de Giuliana, o que o
filme dramatiza é a fragilidade humana diante do enorme gigante
industrial que o próprio homem cria: traumatizada por um acidente de
automóvel, ela é uma mulher instável, indecisa, à beira de um
comportamento totalmente patológico. E, por sua própria posição
de precariedade e não-utilidade, é ela que "encarna" o
substrato dos dramas humanos de seu tempo. Sua casa, tomada por
decoração e móveis hi-tech que fazem com que mesmo no lar ela se
sinta como numa fábrica, não é casa: o único lugar que oferece
algum consolo espacial é a casa em reforma que ela pretende utilizar
como algum tipo de loja (ela não sabe para vender o quê) .O
Deserto
Vermelho consegue
a enorme façanha de ser fiel à desorientação de sua personagem.
Pois, se num momento o filme se arma para ser um relato de
encontro/interesse/relacionamento entre um homem e uma mulher e uma
conseqüente superação do estado de letargia da personagem, ao
longo da projeção essa expectativa é inteiramente quebrada e o fim
do filme revela, pela repetição da locação do início, uma volta
ao mesmo regime de estagnação. A cor no filme funciona –
sublime, impecável – num sentido de construção dramática,
utilizando alguns tons pastosos, híbridos, insidiosos, saturando a
imagem e dando a ela um sentimento arrastado de um espaço pouco
agradável. Como grande especialista em construir espaço através de
enquadramento, angulação e posição de câmera, Antonioni
rapidamente começa O
Deserto
Vermelho estabelecendo
um espaço já impregnado de determinadas características, inscreve
nele seus personagens e os faz interagir com o meio que os circunda.
Assim, logo na primeira seqüência, Monica Vitti come um sanduíche
tendo a sua frente o lixo tóxico despejado pela fábrica e, às suas
costas, o fogo barulhento e constante que faz a chama que sai de uma
chaminé.
Marcus
Mello é crítico
de cinema, um dos editores da revista Teorema,
fundada em agosto de 2002, uma das publicações de cinema mais
respeitadas do Brasil. Formado em Letras, é Mestre em Literatura
Brasileira pela UFRGS e especialista em gestão cultural pela
Universidade de Girona, na Espanha, em curso realizado em parceria
com o Itaú Cultural de São Paulo. Entre maio de 2013 e dezembro de
2016 foi Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da
Cultura de Porto Alegre e diretor da Cinemateca Capitólio,
inaugurada em março de 2015.
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