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Nesta
quinta-feira, dia 15 de agosto, “Caliban – A Tempestade de
Augusto Boal”, criação coletiva da Tribo de Atuadores Ói Nóis
Aqui Traveiz, será encenada na Praça da Alfândega, às 15 horas. O
Ói Nóis Aqui Traveiz traz este clássico de Shakespeare para a rua
e para o exame crítico, lançando mão da adaptação feita por
Augusto Boal, nos anos 70, para criticar o retrocesso nos direitos
sociais do Brasil de hoje. A narrativa é vista pela perspectiva de
Caliban, metáfora dos povos originários da América, que foram
dizimados pelos colonizadores, simbolizados na figura de Próspero.
Foto: Pedro Isaias Lucas |
A ARTE PÚBLICA
DA TRIBO DE ATUADORES ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ
A
aventura da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz começou em
1978 com o encontro de jovens artistas descontentes com o teatro que
se fazia na cidade e no país. O ano anterior tinha sido marcado por
uma grande ebulição social com a volta das grandes manifestações
de rua exigindo liberdades democráticas e anistia aos presos e
exilados políticos. Viviam-se ainda os anos de intolerância e
repressão policial da ditadura civil-militar que se instalara no
Brasil em abril de 1964. O núcleo que deu origem ao Ói Nóis Aqui
Traveiz queria um teatro comprometido com o momento político vivido
no país. O grupo nascia com a ideia de um teatro concebido fora dos
padrões convencionais. Estruturado como um coletivo autônomo
desejando viver e expressar suas ideias através do teatro.
Influenciado pelos movimentos de vanguarda e principalmente pelo
teatro revolucionário que acontecia em diferentes partes do mundo, o
Ói Nóis Aqui Traveiz começou a desenvolver a sua expressão cênica
a partir da criação coletiva, do contato direto entre atores e
espectadores e do uso do corpo em oposição ao primado da palavra.
O
nome em grafia propositadamente iletrada era um aviso de que o grupo
se propunha a tomar atitudes inusitadas e contestadoras. Esse teatro
de ruptura e invenção precisava de outro espaço que não fosse as
salas convencionais de espetáculos com o seu palco italiano e sua
plateia fixa. O grupo, para por em prática o seu pensamento alugou
um espaço de uma antiga boate que transformou em Teatro. A linguagem
das primeiras encenações se aproximava do teatro pânico e do
surrealismo, abrindo espaço para a criatividade dos atores. Surgia
um grupo radicalmente diferente das noções teatrais dos grupos de
resistência - política já existentes no país. Em 1981 começou a
nascer o teatro de rua do Ói Nóis Aqui Traveiz com a preparação
das primeiras intervenções cênicas em manifestações ecológicas
e pacifistas. Em junho um cortejo cênico dos atuadores abre uma
grande manifestação que reúne mais de mil pessoas no centro de
Porto Alegre. Através da alegoria, utilizando bonecos e máscaras, a
Tribo denunciava o uso indiscriminado da energia nuclear e a poluição
do rio que abastece a cidade. A repressão policial se fez presente
interrompendo essa primeira manifestação teatral nas ruas da
cidade. E assim foi com as próximas intervenções cênicas do Ói
Nóis Aqui Traveiz.
![]() |
Foto: Pedro Isaias Lucas |
A partir desses acontecimentos a Tribo não saiu mais da
rua. Antimilitarismo, denúncia de agrotóxico, luta contra o
racismo, defesa dos povos indígenas; em todos os momentos de
mobilização política, em atos de repúdio à injustiça social e à
violência institucionalizada, a Tribo estava presente, em defesa
terna e intransigente de uma humanidade criativa e solidária. Em
1984 os atuadores constituem a Terreira da Tribo, em um prédio
alugado no bairro Cidade Baixa. Um novo espaço cultural aberto a
todo tipo de manifestações: teatro, música, filmes, oficinas de
arte, debates, happenings, celebrações. É a partir da Terreira da
Tribo que o Ói Nóis Aqui Traveiz vai aprofundar e intensificar a
sua pesquisa sobre teatro de rua. O desejo de interferir no cotidiano
da cidade, de levar poesia e reflexão surpreendendo o dia a dia de
centenas de pessoas das mais diferentes classes, vai levar o Ói Nóis
Aqui Traveiz a criar encenações memoráveis como “Teon – Morte
em Tupi-Guarani”(1985). No final de 1999 a Terreira da Tribo muda
de endereço, saindo da zona central para o bairro Navegantes e a
partir de 2009 no bairro São Geraldo. A primeira ação da Tribo é
constituir no novo espaço a Escola de Teatro Popular, que vai
oferecer para a cidade oficinas de iniciação teatral, pesquisa de
linguagem, formação e treinamento de atores, além de seminários e
ciclos de discussão sobre a cena contemporânea, consolidando a
ideia de uma aprendizagem solidária. É na nova Terreira que o
teatro de rua do Ói Nóis Aqui Traveiz vai ganhar mais envergadura e
se torna uma referência de âmbito nacional. Com “A Saga de
Canudos”, de 2000, “O Amargo Santo da Purificação – Uma Visão
Alegórica e Barroca da Vida, Paixão e Morte do Revolucionário
Carlos Marighella”, de 2008, e “Caliban – A Tempestade de
Augusto Boal”, de 2017, a Tribo vai percorrer a maioria dos estados
brasileiros, apresentando em capitais, cidades do interior e também
em assentamentos rurais. Com uma riqueza de detalhes e uma nova
relação com a estética de rua, as novas criações coletivas
resgatam uma parte importante da história do nosso país, trazendo
para esse grande público do teatro de rua capítulos decisivos da
nossa vida política e social. Sem trair a sua vocação artística
instauravam a alegria e a indignação nos espectadores. Nas duas
encenações uma homenagem aos brasileiros que lutaram em nome da
liberdade e da justiça social. O grupo, ao longo de sua trajetória,
transformou-se num verdadeiro laboratório cultural que dialoga
diretamente com a cidade de Porto Alegre. Suas ações artísticas e
formativas reforçam o papel da cultura como meio de convívio, de
reflexão e de atuação social, a partir da idéia de uma Arte
Pública: uma arte destinada ao aprimoramento e à melhoria das
condições de vida da maior parte da população. Com o nosso fazer
teatral queremos contribuir para que a cidade seja um LUGAR
habitável, um LUGAR sem exclusão, um LUGAR para a construção da
cidadania, um LUGAR que seja terreno fértil para semear ideias.
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