- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Nesta
segunda e terça-feira, dias 9 e 10 de dezembro , o Cineclube da
Terreira da Tribo exibe dois clássicos da cineasta francesa Agnès
Varda.
Na segunda-feira passa o filme “Os
Catadores e Eu”,
e na terça-feira “As
Praias de Agnès”,
às 20 horas, na Terreira da Tribo (rua Santos Dumont, 1186), com
entrada franca.
O cineclube faz parte da programação da “Terreira da Tribo – Eu
Apoio”, que é uma campanha de apoio coletivo e permanente que a
Tribo lançou na plataforma virtual da Benfeitoria como forma de
manutenção do espaço da Terreira que completou 35 anos de
existência na cidade de Porto Alegre. Mais informações em
www.benfeitoria.com/terreiradatribo.
Único
nome feminino por trás da Nouvelle Vague e uma das mais importantes
cineastas da história, Agnès Varda (1928-2019) possui uma
filmografia repleta de transformações ao longo dos anos.
Desenvolveu seu trabalho com igual interesse e força pela ficção e
pelo documentário, por questões políticas, sociais e feministas,
assim como por temas e reflexões pessoais. No entanto, um traço em
comum une todas essas frentes: a liberdade formal com que realiza
seus filmes. Buscando nos detalhes da realidade a inspiração para
sua produção, seus trabalhos têm teor simbólico e politizado, sem
deixar de lado sua construção estilística extremamente particular.
Os
Catadores e Eu (Les
glaneurs et la glaneuse, França,
2000, 78 min) Um dia, frequentando uma feira de
seu bairro, Varda se surpreendeu com as figuras dos catadores, que
vivem dos restos de comida. Ela retornou às feiras e aos poucos
travou contato com essas pessoas para descobrir sua rotina, sua visão
sobre a França e as perspectivas para o futuro. Os Catadores e Eu é
um documentário que mostra uma visão humana da vida dos catadores
de frutas que, após a colheita, recolhem tudo aquilo que ficou no
chão e depois vendem ou doam para os pobres famintos. A partir de um
célebre quadro de Millet, Des glaneuses (Os Catadores), o filme de
Agnès Varda é um olhar sobre a persistência na sociedade
contemporânea dos catadores, aqueles que vivem da recuperação de
coisas que os outros rejeitam. A catadora, nesse sentido, é Agnès
Varda, que experimentando pela primeira vez uma pequena câmera
digital, se assume como uma recuperadora das imagens que outros não
querem ver nem fazer, e que, portanto, deixam para trás.
As
Praias de Agnès (Les plages
d'Agnès, França, 2008, 108 min) “Se você abrir uma pessoa,
irá achar paisagens. Se me abrir, irá achar praias”. Na areia de
uma praia, Agnès Varda dispõe espelhos que refletem o mar e também
seu rosto – ponto de partida para uma viagem autobiográfica em que
se alternam documentário e ficção. “É uma ideia engraçada,
entrar em cena, filmar um autorretrato quando se tem quase 80 anos”.
A ideia surgiu um dia na praia em Noirmoutier (onde ela filmou, em
2006, Quelques Veuves de Noirmoutier). “Percebi que outras
praias tinham marcado a minha vida. As praias se tornaram um pretexto
e sequências do filme. Eu queria passar para meus parentes e
conhecidos algumas histórias e algo de meu trabalho ao longo de
minha jornada de vida. E mais, queria voltar o espelho para os
outros, para aqueles que me formaram, aqueles que conheci, as pessoas
que amei.” Após as exibições haverá uma conversa com o cineasta
Pedro Isaías Lucas.
AGNÈS VARDA
Nascida
em Bruxelas, na Bélgica, em 1928, a Segunda Guerra Mundial fez sua
família mudar-se para o sul da França. No início da vida adulta,
foi para Paris, onde estudou história da arte e começou sua
carreira como fotógrafa. Em pouco tempo, mesmo sem experiência e
até então tendo visto poucos filmes, passou das imagens estáticas
para o cinema com a ajuda de Alain Resnais, seu mentor. No entanto,
esse detido olhar fotográfico a seguiu durante todos os seus filmes.
Em
1954, criou sua produtora, a Ciné-Tamaris, mesmo ano de seu primeiro
trabalho, La Pointe Courte, filme seminal da Nouvelle Vague e
que de alguma maneira já indicava os caminhos nos quais seu cinema
iria se desenvolver. Ambientado na vila que dá nome à obra, La
Pointe Courte é dividido em duas narrativas que se passam no
mesmo lugar, mas que nunca se encontram. A primeira, documental,
mostra os habitantes locais lidando com questões coletivas e
relacionadas à sobrevivência, enquanto a segunda apresenta um casal
em crise cujo marido, querendo se reencontrar, retorna ao lugar onde
passou a infância.
Em
1962, fez um de seus mais importantes longas-metragens, Cléo das
5 às 7. Intimista e feminista, ele acompanha a personagem-título
por duas angustiantes horas pelas ruas de Paris, enquanto ela aguarda
o resultado de um exame. Seu filme seguinte, As Duas Faces da
Felicidade (1965), vencedor do Prêmio Especial do Júri no
Festival de Berlim, foca uma família perfeita à primeira vista, não
fosse o patriarca um homem infiel, apesar de feliz no casamento.
No
final da década de 1960, ocorreu uma primeira guinada em sua
trajetória. Agnès Varda e o marido, o também cineasta Jacques
Demy, mudaram-se para Los Angeles, durante a efervescência da
contracultura nos Estados Unidos. Por lá, segundo ela, mergulhou “no
espírito de revolta”, o que derivou em trabalhos como, por
exemplo, um curta sobre o movimento dos Panteras Negras. De volta à
Europa, passou os anos 1970 e 1980 entre documentários, ficções,
curtas e longas-metragens, em um dos períodos mais criativos e de
maior produção em sua carreira. Dessa época são filmes como
Daguerreótipos (1976), retrato silencioso do cotidiano da rua
Daguerre, na capital francesa; Uma Canta, a Outra Não (1977);
Os Renegados (1985), vencedor do Leão de Ouro e do Prêmio da
Crítica no Festival de Veneza; além de Jane B. por Agnès V.
(1988), dedicado e protagonizado pela musa do cinema francês Jane
Birkin.
A
morte de Jacques Demy em 1990 rendeu duas homenagens dirigidas por
ela. Jacquot de Nantes (1991), drama biográfico e lúdico em
que se vale das memórias de Demy para encenar, ao mesmo tempo, seu
despertar e interesse pelo cinema por meio de evocações de sua
infância. A diretora voltou a celebrá-lo com o documentário O
Universo de Jacques Demy (1995), em que mostra sua trajetória e
visão sobre o cinema.
Na
década seguinte, os documentários ganharam outra dimensão em sua
filmografia. Com uma abordagem reflexiva, memorialística e
irreverente, a diretora se colocou como personagem e voz ativa nos
filmes.
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos