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Por Fábio
Prikladnicki (Zero Hora, 8 de outubro de 2011)
Há
um momento em que se repete em algumas encenações do Ói Nóis Aqui
Traveiz. O mais recente espetáculo, Viúvas Performance Sobre a
Ausência, é a festa no povoado.
Em
Aos que Virão Depois de Nós – Kassandra em process (2002), é a
cena da gruta. São trechos que suspendem a ação dramática,
substituindo-a pela lógica atemporal do Sonho, em um ritual
compartilhado pelos “atuadores” com os espectadores. Longe de
qualquer ideia estereotipada de interação, as personagens oferecem
ao público uma verdadeira experiência, às vezes com bebida, comida
ou aromas, em um gesto que tem algo de telúrico, como uma volta a um
estado ancestral de comunhão com a natureza. Estado que a certa
altura, é interrompido pelos vilões da história, invadindo
brutalmente o ritual e remetendo a dura realidade da vida em vigília,
aquela em que os comandantes oprimem cidadãos, povos lutam contra
outros e pessoas morrem em nome de seus ideais.
Foto Claudio Etges |
Que
o Ói Nóis Aqui Traveiz é esse que, aos 33 anos parece próximo de
conquistar sua sede definitiva, justamente no bairro – Cidade Baixa
– onde tudo começou?
Muita
coisa mudou desde 1978 para cá. foram-se os tempos de ânimos
acirrados, que a tribo de atuadores enfrentou por meio de um teatro
ativista, sem hesitar em provocar o público. Ostal (1987), estreado
na ressaca da ditadura militar, era encenado no cenário
claustrofóbico de um quarto, sob cheiro de éter, ao qual se
assistia com máscaras cirúrgicas.
Sim,
os tempos são outros. Hoje, o teatro resiste como uma linguagem
que,diferentemente da música ou do cinema, não pode ser baixada da
internet. E o Ói Nóis? Aprimoraram sua estratégia de
sensibilização do público, tanto do ponto de vista estético
quanto político (esses dois elementos nunca estão separados).
Sabem
que é preciso conduzir o público pela mão, no sentido mais literal
do termo. O Ói Nóis não está menos ousado: está maduro como
nunca. Na mundo que alegam – com certa razão – que a história
não deve ser vista de um ponto de vista maniqueísta, o grupo nos
lembra que há momentos em que é preciso, sim, escolher lados. O
lado dos que defendem a abertura dos arquivos da ditadura brasileira,
por exemplo, Como disse Paulo Flores a Zero Hora em Janeiro, por
ocasião da estreia de Viúvas – Performance sobre a ausência.
Entre
as diversas causas do Ói Nóis que ainda não envelheceram, uma das
mais significantes, talvez seja a do teatro, que também é uma causa
política. do teatro mesmo: dos cenários exuberantes, das atuações
competentes, dos figurinos cuidadosos, dos textos pertinentes. Eles
sabem que, se não houver uma encenação de excelência, não há
utopia que resista.
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