A quarta aula de 2022 da Escola de Espectadores de Porto Alegre (EEPA) será no dia 25 de junho, SÁBADO, das 10h ao meio-dia, no TEATRO DE ARENA (Altos do viaduto Otávio Rocha). Durante o encontro, será discutido o monólogo QUASE CORPOS Episódio 1: A Última Gravação, do coletivo Ói Nóis Aqui Traveiz. Estará presente o atuador Paulo Flores, cofundador do grupo e que faz sua estreia no formato monólogo em Quase Corpos. As aulas da EEPA são gratuitas e sem pré-requisitos. A matrícula de novos alunos será feita no local. Todos estão convidados!
Outra vez o Rito! Outra vez nós “aqui”, no Rito!
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Antonia
Pereira Bezerra (Jornal do FIT/São José do Rio Preto - 16/07/2007)
Fotos de Claudio Etges
Ontem,
13 de julho de 2007, no Palco Petrobras, durante uma mesa redonda
intitulada – Impermanência: dos processos de criação, Paulo
Flores foi interrogado sobre o “lugar” do espectador em suas
obras. Algumas horas depois fui “vivenciar” o impactante “drama”
Aos que virão depois de Nós - Kassandra in Process, com a tribo de
Atuadores Oi nós aqui Traveiz. A reposta do Diretor da Tribo, Paulo
Flores, à questão do lugar do espectador, finalmente, se dissolveu
no meu espírito, mas a “vivência” desse “lugar” nas
instalações de uma fábrica desativada – o espaço Swift - me
deixou marcas profundas, indeléveis. E é desse “lugar” que vou
falar, que preciso falar. Ontem, como quem vai à missa ou como quem
faz uma descida aos infernos em busca de uma revelação, eu adentrei
os labirintos da História e, numa espécie de ritual iniciático,
descobri uma das potentes fórmulas de fabricação dos grandes
mitos, das grandes narrativas; descobri como esses mitos e essas
grandes narrativas são erigidos e utilizados com fins de manipulação
e de exercício do poder fálico desde os tempos imemoriais. Ao
mesclar trechos de Eurípides, Albert Camus, George Orwell e Beckett
ao texto de Christa Wolf, a Tribo de Atuadores fortalece mais ainda a
desconstrução de um grande mito; derruba o argumento segundo o qual
os gregos teriam motivos reais e legítimos para “invadir Tróia e
dizimar seu povo”: Paris – filho de Heitor violando as leis de
hospitalidade grega, raptou Helena, a mulher de Menelau. O
enfraquecimento deste argumento se plurariza e se estende a outros
contextos passados, presentes e futuros, pois o mecanismo dissecado e
desvelado nas obras de Christa Wolf e da Tribo de Atuadores podem
servir à compreensão da fabricação e articulação de qualquer
guerra.
Em aos que Virão Depois de Nós a
clarividência e a consciência política de Kassandra, pouquíssimo
explorada – para não dizer desprezada - na tragédia de Eurípides
- são trabalhadas com uma intensidade e gravidade tamanha que chegam
a tirar o chão do espectador, deixando-o quase que petrificado, em
estado de estupor. Nesse rito cruel e doce, como não lembrar de
Judith Malina, Julian Beck e o Living Theatre? Judith Malina, em
particular, proclamava a tese, segundo a qual o mergulho profundo nas
profundezas noturnas, dionisíacas do ser era perfeitamente
compatível com o exercício da clareza de espírito, com a dimensão
apolínea do logos, tão necessária à Polis. Como no Living
Theatre, ontem Antonin Artaud e Erwin Piscator estavam de mãos
dadas, no mesmo ritual e sob um mesmo templo. Não no templo de
Delphos, mas num templo que Paulo Flores e a tribo de Atuadores
arquitetaram, performaram... E por falar na arquitetura deste templo,
como não levar cravados na retina e na alma, os odores, as cores e
texturas obscuras daquele lugar? Um lugar que encanta, perde,
entristece, exalta e desorienta o espectador. Um lugar onde a
história, o mito é testemunhado, vivido de dentro, jamais assistido
de fora. Percorrer esse lugar é tão fascinante e aterrador, quanto
abandonar o corpo às vibrações sensíveis e agudas das canções
que a Tribo entoa.
Em muitos momentos o espectador é
arrebatado pelo rito e como que “possuído” se deixa levar pela
dança. Ressalte-se, nesse espírito, a cena dos rituais de
fertilidade, onde, num espaço estreito e à penumbra, mulheres
seminuas, se abandonam ao exercício da sensualidade e evolvendo o
espectador com seus inebriantes saques/vinhos o enfeitiça....
Dinisio, Lysios, Deus da Anarquia, destrutor da boa ordem cívica! Em
muitos momentos, também e no mesmo ritual, somos chamados ao
exercício da razão apolínea. Arrazoamos com Kassandra, acerca da
sede de poder e da bestialidade dos homens. Aos que Virão Depois de
Nós é uma fascinante lição de história sobre a fabricação de
todas as guerras e suas estratégias. É um ritual que nos convida a
exercer nossos contrários: Apolo e Dionísio. O Solar e o Lunar. O
que dizer do jogo dos atores? De uma precisão “física”, de uma
potência poética devastadora. O que dizer de Kassandra Tânia
Faria? Essa atleta da alma cala qualquer voz. Enfraquece todo e
qualquer argumento! ...Testemunhar as lágrimas que caem dos olhos de
Kassandra Tânia Faria, como pérolas recém banidas de sua ostra
concha/refúgio, para rolar no coração e no rosto do
espectador!...Ver o corpo sem órgãos de Tânia Faria, o Jogo de
Tânia Farias! ... O resto é silêncio!
ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ
lança nova ação da Jornada Virtual!
A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz lança sua virtual: "Poéticas de Ousadia e Ruptura
- Uma Jornada com o Ói Nóis Aqui Traveiz". Também lançará mais um episódio da Websérie "Terreira da Tribo - A Pedagogia do Ói Nóis Aqui Traveiz" na sexta dia 19 de junho. Sempre às 19h, no canal do Youtube do grupo (www.youtube.com/c/oinoisaquitraveiz) e replicadas na página do Facebook
e no canal do IGTV do perfil no Instagram @oinoisaquitraveiz
O grupo ainda se coloca à disposição, neste intervalo de tempo, através de lives no seu perfil do Instagram, para conversar sobre os episódios passados e para introduzir os próximos. Sempre nas segundas-feiras às 19h.
Essas ações virtuais são uma realização da Associação dos Amigos da Terreira da Tribo e fazem parte do projeto Terreira da Tribo - Ponto de Cultura.