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Claudio Heemann (Revista/Programa do espetáculo Missa para o atores e público sobre a paixão e o nascimento do Doutor Fausto de acordo com o espírito de nosso Tempo – maio de 1994)
Na rua Ramiro Barcelos, perto da igreja Santa Terezinha, numa pequena garagem que tinha sido boate, surgiu em 1978 um grupo de teatro. “Um teatro com pedra nas veias”, anunciavam os panfletos de divulgação. O nome do conjunto, em grafia propositadamente iletrada, era Ói Nóis Aqui Traveiz. Nesta identificação já dava para sentir a clara contestação aos padrões bem comportados. Um aviso de que o grupo se propunha tomar atitudes inusitadas e contestadoras. Paulo Flores aparecia como incentivador das atividades e Júlio Zanotta Vieira contribuía no papel de dramaturgia. A direção era colegiada. O Ói Nóis Aqui Traveiz provou logo ser diferente dos habituais teatreiros citadinos. Colocava-se em oposição aos padrões vigentes. Na forma e conteúdo os propósitos eram devastadores. Agressivo e radical, o Ói Nóis manifestava recusa absoluta frente à rotina do fazer teatral. Com muita energia lançava-se na quebra geral de moldes burgueses. Repudiava a tradição, as posturas elitistas e estetizantes da vanguarda comum. Nada de diversão ou acomodações estéticas. Revolução visceral. Um movimento que procurava mexer com a cabeça e a vida do público. Propunha intervenção na realidade. Declarava guerra as convenções e à ordem estabelecida. Apresentava convicções ideológicas radicais. Fazia quebra-quebra em busca de uma nova sociedade. Um trabalho de conscientização da platéia. As denúncias exorcizavam o condicionamento que os poderes discricionários exercem sobre os indivíduos. A exploração do homem pelo homem, as arbitrariedades políticas, o capitalismo, as mil formas de opressão com que a sociedade convive foram escolhidos como alvo para críticas. Nesta linha de tiro acontecia a explosão criativa das encenações. A forma anticonvencional propunha um ritual liberador de forças instintivas e sugestões anárquicas. Inconformismo cheio de ousadia e inovação.
Além de tudo, fora de cena, o grupo assumia uma militância coerente com suas visões e projeções cênicas. No andamento de um ritmo grave o Ói Nóis adotou uma forma ritualística, onde a nudez, o envolvimento físico com a platéia, a pantomima, o discurso irracional, a ação metaforizada, a abolição do palco neoclássico, a duração derramada, formaram elementos expositivos marcantes e deram personalidade própria ao grupo. Com aparência e timbre de um acontecimento apocalíptico. Hoje o conjunto possui sede – a Terreira da Tribo - onde pode experimentar à vontade quando não se encontra em vigiliatura pelas ruas e vilas populares. Vários prêmios reconheceram a qualidade das propostas. E o Ói Nóis Aqui Traveiz prossegue em seu trabalho colegiado na preocupação de analisar a sociedade contemporânea, denunciar problemas e pugnar pelo oprimido. Coerente com seus princípios e consciente do lugar especial que conquistou no panorama da atividade teatral gaúcha é uma força incontestável. Tem voz política e presença cênica afirmadas.
E
lembramos que a Tribo continua com a campanha de financiamento
coletivo na plataforma da Benfeitoria, para manter vivo o espaço
cultural da Terreira da Tribo, que passa por ainda mais dificuldades
neste momento de pandemia. www.benfeitoria.com/terreiradatribo
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