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ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ 44 ANOS [PARTE 2]


 
 
Com um mês de atividades o Teatro Ói Nóis Aqui Traveiz foi interditado pela Secretaria de Segurança. Aí começou uma longa campanha pela reabertura do teatro. O fechamento agravou a situação econômica do grupo e a saída de alguns dos seus integrantes. Para vencer a crise o grupo buscou outros espaços para encenar o seu espetáculo. Também é o momento em que o grupo começou a compartilhar as suas experiências através de uma oficina de teatro. E é principalmente com os jovens desta oficina que criou a montagem de “A Bicicleta do Condenado”, do espanhol Fernando Arrabal: um preTexto para a reVolta do Ói Nóis Aqui Traveiz. Durante o processo de criação integrantes do grupo foram presos em manifestações contra a ditadura. Essa experiência de repressão e violência foi canalizada para a cena. A reabertura do Teatro trouxe para a encenação uma história de opressão e horror, onde duas pessoas tentam sobreviver em um lugar comandado por uma ordem militar. Se no primeiro espetáculo o público ficava separado dos atores por uma cerca de arame farpado, agora os espectadores estavam completamente integrados ao espaço cênico. As cenas aconteciam por todo o espaço, não existindo um foco central. O espectador perdia sua passividade de testemunha em segurança do seu assento fixo. A ação da peça podia desenvolver-se sobre a sua cabeça, ao seu lado, muito próximo ou além de sua vista para obrigar-lhe a uma mudança. Os espectadores poderiam assim organizar, ainda que ao acaso, a composição do seu espetáculo, mais ou menos livremente. Um teatro de choque como Porto Alegre nunca presenciara.

“A Bicicleta do Condenado”



“A Bicicleta do Condenado” é a história de Viloro, um músico, que vive num ambiente indefinido, porém marcado pela opressão. Nesse contexto, ele tenta obstinadamente executar a escala musical ao piano, no que é violentamente interrompido pelos seus opressores. É também a história de Tasla, a mulher que trabalha para esse sistema de força sem, no entanto, concordar com suas leis. A contragosto, ela transporta os condenados na sua bicicleta. Entre Viloro e Tasla estabelece-se uma relação de cumplicidade. Ambos acreditam que juntos poderão escapar daquela situação limite. Com essa montagem, o Ói Nóis tornou ainda mais clara a sua proposta de teatro político – voltado às denúncias da condição humana – e de teatro visceral, provocativo – capaz de mexer com o inconsciente das pessoas e pôr um xeque a sua segurança. Desta vez, o público não tinha sequer uma cerca de arame que o separasse dos atores. Ao entrar no Teatro, esse público já se via no centro da ação. E que ação! No cenário, constituído de areia, apenas alguns rudes brancos, feitos de tijolos empilhados ou sacos de cascas de arroz, serviam pra acomodar, ou melhor, incomodar o espectador. Este, por duas horas, seria um personagem, ainda que passivo, se é que era possível permanecer inerte diante de certas cenas. A peça é particularmente marcante por proporcionar ao Ói Nóis a descoberta de um novo caminho: a transferência do teatro para a rua. Após ser assassinado pelo ditador, Viloro era carregado por Tasla, que o levava nos braços para fora do Teatro. Ao sair, ela era seguida pelo coro que se libertava de suas mordaças e vendas. Na calçada, elas liam um trecho do poema Carta ao Generalíssimo Franco, de Arrabal, e depois brincavam com vários balões coloridos. A história terminava quando um balão azul de gás era solto no ar. Esse gesto, para o Ói Nóis, tinha duplo sentido: era o símbolo da ânsia de romper com aquela opressão e transmitia a idéia de que o teatro não poderia estar restrito a ambientes fechados. “A Bicicleta do Condenado” ainda inaugura, no Grupo, a prática do debate ao final do espetáculo. (‘Atuadores da Paixão’ de Sandra Alencar)


Autor
: Fernando Arrabal
Direção, cenografia e figurino: criação coletiva
Iluminação: Damico e Paulo Flores
Elenco: Adauto Ferreira, Arli Pacheco, Celso Jardim, Clarissa Baumgarten, Clô Barcelos, Iara Nunes, João Carlos Castanha, Jussemar Weiss, Maluh Baumgarten, Marcia Vargas, Roberto Oliveira, Rogério Gomes, Rosângela da Cunha e Shirley Taylor.
Intérpretes em substituição: Beto Nunes e Paulo Flores
Estreia: 3 de novembro de 1978
Local: Teatro Ói Nóis Aqui Traveiz