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ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ 44 ANOS [PARTE 3]

Em 1979 o grupo, ainda no seu Teatro, encenou duas montagens que causaram escândalo e repercussão: “Ensaio Selvagem” e “O Rei Já Era Parará Tim Bum Bum”. O colonialismo cultural e a mostra do processo da criação de uma superstar a serviço do imperialismo era o foco de “Ensaio Selvagem”, do mineiro José Vicente. Aprofundava uma linguagem que buscava uma palavra de impacto integrada ao movimento corporal, afastando-se do psicologismo do naturalismo. O ator reelaborava a personagem expressando-a como uma projeção de sua própria personalidade, com total despojamento e total doação. Num determinado momento do espetáculo havia uma celebração entre atores e público através do toque, das carícias e de entoar uma canção envolvente, que lembrava um mantra. A encenação partia da ideia que o teatro convencional estava morto e que a única possibilidade de vida estava no contato físico com o público, na comunhão dos corpos. O espetáculo se apresentou em Curitiba tendo uma boa repercussão de público e crítica. 
 

´Ensaio Selvagem´


“Ensaio Selvagem” é o processo de criação de um mito pela máquina da dominação. Brown Sugar, estrela de cinema e teatro da Atlântida, vinda exilada do Rio de Janeiro, “os trópicos, últimas reservas de matéria prima do mundo, espaço decisivo para o imperialismo”, embarca no “train” da Railway em busca de justiça e salvação. Os gangsters imperialistas, utilizando-se da superstar para propagandear a alienação, a mentira, o medo põem-se em ação.

O teatro, a televisão, o cinema a serviço do Super Man, do Tio Patinhas, da Coca Cola, da General Motors, dos Rockfellers.

Mister Flashman, empresário do império das imagens, pretende introduzir na mente tropical de Sugar os diamantes britânicos, transformando-a numa autêntica inglesa, a fim de utilizá-la no serviço de “Chantagem Moral”: a cidadania inglesa a todos os filhos do Rio de Janeiro, em troca do poder absoluto para a Railway, de todo o território da Atlântida: Marilyn Monroe, John Travolta, Brown Sugar, Rolling Stones, abrindo caminho para as multinacionais.

Flashman coloca seu plano em ação através de Lovelock, treinador do método “Straight Acting”, a interpretação como meio de repressão. É utilizado o “braind washing”, a “lavagem cerebral” para apagar a memória do passado de Sugar. 


 
Num ato de vampirismo, Lovelock desmonta a face, os gestos, máscaras e linguagens de Sugar. A perda de identidade de um povo totalmente devorado pelos colonizadores.

Brown Sugar, numa viagem sem possibilidade de regresso, transforma-se na denúncia e no fracasso de Lovelock, grito contra o capitalismo selvagem. A luta pela libertação dos nossos palcos da linguagem da dominação. A negação do teatro morto e a procura da única possibilidade de vida, no público, no contato físico na comunhão de corpos. 


Autor: José Vicente
Direção, cenografia e figurino: criação coletiva
Iluminação: Arli Pacheco e João Carlos Castanha
Filme: Carlos Wladiminski e Cibelo Espírito Santo
Música: Guilherme Meneghetti
Elenco: Adauto Ferreira, Caio Gomes, Celso Jardim, Ellen Nara, Jussemar Weiss e Paulo Flores
Intérprete em substituição: Maluh Baumgarten
Estreia: 27 de abril de 1979
Local: Teatro Ói Nóis Aqui Traveiz