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ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ 44 ANOS [PARTE 1]

A aventura da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz começou a ser gestada no final de 1977 com o encontro de jovens artistas descontentes com o teatro que se fazia em Porto Alegre e no país. Estruturado como um coletivo autônomo desejando viver e expressar suas ideias através do teatro. Influenciado pelos movimentos de vanguarda e principalmente pelo teatro revolucionário que acontecia em diferentes partes do mundo, o Ói Nóis Aqui Traveiz começou a desenvolver a sua expressão cênica a partir da criação coletiva, do contato direto entre atores e espectadores e do uso do corpo em oposição ao primado da palavra. O grupo, para por em prática o seu pensamento alugou um espaço que transformou no Teatro Ói Nóis Aqui Traveiz, na rua Ramiro Barcelos. A sua primeira encenação era formada por duas peças curtas, “A Divina Proporção” e “A Felicidade Não Esperneia Patati Patatá”, escritas por um dos integrantes do grupo, Júlio Zanotta. Ambas abordavam o processo de desumanização que o homem sofre pela violência da sociedade consumista. A primeira focalizava o problema habitacional e a especulação imobiliária, e a segunda, apresentava a medicina, descaracterizada, como um produto de mercado. A linguagem dos textos se aproximava do teatro pânico e do surrealismo, abrindo espaço para a criatividade dos atores. O grupo lançou o manifesto “Teatro Com Pedra nas Veias” e estreou o seu primeiro espetáculo no dia 31 de março de 1978, data que os militares festejavam a sua “revolução redentora”. A encenação levantou muita polêmica e foi classificada pela crítica como um espetáculo de força e convicção. 






Manifesto ‘Um Teatro com Pedra nas Veias’

Pedra nas veias para tentar criar uma demonstração coerente da barbárie. A selvageria como uma relação entre ‘civilizados’. A humilhação como coragem de suportá-la.

Pedra nas veias para buscar um acontecimento teatral que negue a desumanização do indivíduo e denuncie a descaracterização consumista

Pedra nas veias para deformar aquilo que até ontem chamávamos teatro.

Pedra nas veias para expor cruamente no espaço cênico uma figuração crítica do cotidiano.

Pedra nas veias para encontrar no ator a sua desilusão, a sua frustração, a sua raiva, os seus pesadelos.

Pedra nas veias para não fazer concessões ao esteticismo burguês, nem aos pregões do teatro-palavra.

Pedra nas veias para ir um pouco adiante da cultura de resistência.

Para ousar opor-se.”



 

 
 A Divina Proporção



A Divina Proporção tem o problema habitacional como pano de fundo. Quatro personagens se movem grotescamente limitados num monte de lixo cercado arame farpado, se desgastando em conflitos pueris e perdendo toda sensibilidade ao se submeterem à engrenagem abstrata e corrosiva que os condiciona. Os personagens são o Construtor, proletário poderoso de um conjunto habitacional compostos por centenas de minúsculos apartamentos, e o Técnico da Arte de construir, da Saúde e da Organização Social (transformado pela censura em Técnico, simplesmente), legislador a serviço do Estado, fiscal encarregado de zelar pela harmonia social. Os dois se confundem no lixo que enche o espaço cênico. Diz o autor: - O Construtor está iniciando a venda de seus minúsculos apartamentos e o Técnico surge com as normas e os códigos legais.

Autor: Júlio Zanotta
Direção: Paulo Flores
Cenário e figurino: criação coletiva
Iluminação: Júlio Zanotta
Sonoplastia: Clara Nunes
Elenco: Beatriz Tedeschi, José Paulo Nunes, Jussemar Weiss e Silvia Veluza
Intérprete em substituição: Paulo Flores




A Felicidade Não Esperneia, Patati Patatá

Em a A Felicidade Não Esperneia, Patati Patatá, o texto mostra a medicina como instituição desumana e a linguagem alegórica elimina qualquer possível afeto nas relações entre os personagens. No monte de lixo cercado por arame farpado, um paciente destroçado (formado por dois atores enrolados em ataduras cirúrgicas) é apresentado à instituição médica. Então surgem dois médicos, deformados fisicamente, para iniciar o ritual selvagem que salvará o paciente da enfermidade incurável. Terminada a cirurgia o paciente é capaz de falar e articula a palavra incongruentes pedindo uma máscara de oxigênio e uma incubadora artificial, ao mesmo tempo que se automotila.

Autor: Júlio Zanotta
Direção: Paulo Flores
Cenário e figurino: criação coletiva
Iluminação: Júlio Zanotta
Sonoplastia: Clara Nunes
Elenco: Alfredo Guedes, Beatriz Tedeschi, José Paulo Nunes, Jussemar Weiss, Paulo Flores e Rafael Baião
Intérpretes em substituição: Adauto Ferreira e José Luís