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O “O Rei Já Era Parará Tim Bum Bum”, criação coletiva inspirada no grupo chileno Aleph, nascia do desejo do grupo em atuar em espaços públicos. As primeiras apresentações aconteceram nos campis universitário em áreas abertas. Estudantes que promoveram a peça na Universidade Católica foram expulsos. O autoritarismo e a repressão não permitiram que naquele momento o espetáculo fosse encenado em praça pública. E a peça teve que fazer temporada dentro do teatro. Além das montagens de impacto, o grupo participou ativamente das manifestações políticas, como o movimento pela Anistia, a greve dos bancários e da construção civil e o protesto contra o aumento das passagens municipais. Na retrospectiva da década, a crítica citou o grupo como o fato mais importante do teatro gaúcho nos últimos anos.
A peça, inspirada no texto “Era Uma Vez Um Rei”, do grupo chileno Aleph, faz uma crítica ao poder instituído e às diversas formas de dominação criadas pelo homem. A história começa quando três mendigos papeleiros (Garnizé, Cacareco e Prudêncio) decide brincar de “Sua Majestade”. A cada semana, um será o rei, e os outros trabalharão por ele. O conflito surge quando o primeiro a assumir o trono (Garnizé) se recusa trocar os papéis e passa a oprimir os seus companheiros. Paralelo a esta trama, há um outro foco na ação: numa casa abandonada. Diante de uma ceia de natal, um casal de noivos tenta estabelecer um contato através da linguagem corporal. O enredo era desenvolvido em dois ambientes. A ação dos mendigos se passa num jardim construído com elementos reais: grama, toco de árvore, muitas camadas de terra e um chafariz, que jorrava água o tempo todo. O movimento do casal acontecia num plano mais elevado, onde se construiu uma fachada de ruínas. Assim, se queria mostrar que a estrutura social era como uma casa em decadência. O ponto comum entre essas duas cenas, segundo o Grupo, era a tentativa de se libertar do poder. No caso dos mendigos, o poder que exercia sobre a sociedade; no caso dos noivos, o poder sobre o indivíduo. À plateia caberia escolher entre sentar nos bancos, que ficavam ao fundo do teatro, onde a visão era mínima, ou se arriscar a pisar no lodo. “Queríamos que o público se movimentasse à procura dos acontecimentos”, explica Paulo. As peças anteriores causaram ao público um certo desconforto, mas em “O Rei Já Era...”, essa sensação chegou ao clímax. A certa altura da peça, os mendigos dominados (Cacareco e Prudêncio) rebelam-se contra o seu opressor (Garnizé). A tomada de consciência gera uma guerra no meio da lama, no melhor estilo do salve-se quem puder. No final, Garnizé, ao som de um apito e espada na mão, corre Prudêncio, prende Cacareco e expulsa o público do Teatro. Na rua, as pessoas podiam ouvir os gritos de Cacareco pedindo socorro. (“Atuadores da Paixão” de Sandra Alencar)
Roteiro: Era uma Vez um Rei – Grupo Aleph (Chile)
Direção, cenografia e figurino: criação coletiva
Iluminação: Caetano
Elenco: Adauto Ferreira, João Carlos Castanha, Jussemar Weiss, Paulo Flores e Thaís Cornely
Intérpretes em substituição: Fátima Beatriz e Jorge Miranda
Estreia: dezembro de 1979
Local: Teatro Ói Nóis Aqui Traveiz
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