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ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ 44 ANOS [PARTE 10]






É na Terreira que a Tribo buscou o "autodesnudamento" do ator grotowskiano. Partindo do íntimo de seu ser e de seus instintos, o ator deve ultrapassar os seus próprios limites e condicionamentos. O objetivo e a função do ator é fazer ressoar alguma coisa na intimidade mais profunda do espectador. Dentro desse processo de pesquisa a Terreira vai produziu nos próximos anos o que chamou de trilogia da Condição Humana. Espetáculos que envolviam questões como solidão, incomunicabilidade e finitude do ser humano. “As Domésticas”, de Jean Genet, de 1985, é um cerimonial teatral, um extraordinário jogo de aparências, onde o imaginário e a realidade se fundem para que através da mentira, do choque e do artificial, os participantes do cerimonial se enxerguem diante do seu próprio espelho. Veem-se em cena três homens representando mulheres, e estas que representam papéis sociais que compreendem as relações servis de doméstica-patroa. O universo feminino subjugado por uma sociedade essencialmente machista. As empregadas estão presas à imagem da Patroa por uma mistura de afeição, amor erótico e ódio profundo. Elas não conseguem deixar de imitar e desejar ser a Patroa. Uma odeia a outra porque vê na companheira a própria imagem refletida como num espelho.




“AS DOMÉSTICAS”

Em ´As Domésticas´ estão em foco a exploração e a subserviência, que caracterizam as diferentes classes sociais, ilustrada aqui na imagem de duas empregadas domésticas e sua rica patroa. A peça retrata o universo feminino subjugado por uma sociedade essencialmente machista. Os personagens femininos são representados por homens. O ambiente cênico era constituído pelas cadeiras dos espectadores, uma cama de casal, um guarda-roupa e uma penteadeira com espelho. Na decoração do quarto, muitas flores, cortinas de cetim, o altar de uma santa (a imagem viva da própria patroa) e um quadro com a pintura de um falo. Toda a configuração dos móveis era fálica. A encenação acontece como um cerimonial místico-erótico. No quarto da patroa, as irmãs Clara e Solange dedicam algumas horas do dia à inversão de seus papéis. Enquanto Clara se passa pela patroa, remexendo seus pertences, Solange assume a identidade da irmã, e ambas humilham-se mutuamente até o momento de ensaiarem o assassinato da dona da casa, gesto sempre interrompido pelo alarme do despertador. É hora de recolocar tudo nos lugares. Ela está quase chegando. Na brincadeira, fica óbvia a ambiguidade das relações existentes entre as criadas e sua ama. As primeiras estão presas á imagem da segunda por laços de afeição, erotismo e ódio. E nutrem entre si um profundo despreza, por verem, uma na outra, o que realmente são. Seu maior desejo não é eliminar a classe da patroa, mas ocupar seu lugar na sociedade. O clímax ocorre quando as mulheres percebem que o amante da patroa, que elas haviam denunciado à policia através de uma carta anônima, é posto em liberdade. Com medo de serem desmascaradas, decidem executar o plano. Porém, a dona de casa, eufórica com a notícia, recusa o chá de camomila envenenado e sai novamente. Ao se sentirem acuadas, elas repetem o jogo, mas, desta vez, vão até o fim. Fantasiada como patroa, é Clara que se envenena, enquanto Solange está decidida a acusar-se de sua morte.


 
 
Autor: Jean Genet
Direção: coletiva
Cenografia e figurino: Isabella Lacerda
Adereços e maquiagem: Arlete Cunha
Iluminação: Danilo Costa
Elenco: Horácio Borges, Paulo Flores e Renan Costa
Estreia: dezembro de 1985
Local: Terreira da Tribo