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ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ 44 ANOS [PARTE 8]







Em 1984 os atuadores constituem a Terreira da Tribo, em um prédio alugado na rua José do Patrocínio no bairro Cidade Baixa. Um novo espaço cultural aberto a todo tipo de manifestações: teatro, música, filmes, oficinas de arte, debates, happenings, celebrações. O nome deste espaço feminino, telúrico e anarquista vem de terreiro, lugar de encontro do ser humano com o sagrado. Na Terreira da Tribo o Ói Nóis Aqui Traveiz volta à cena com a montagem de “A Visita do Presidenciável ou os Morcegos Estão Comendo os Abacates Maduros”, uma espécie de parábola sobre o momento político do país. Derrotada a campanha pelas eleições diretas, o país se preparava para a sucessão presidencial via congresso. Depois de vinte e um anos de ditadura, um civil iria assumir a presidência, não trazendo nenhuma mudança social significativa, além de todo o seu comprometimento com a estrutura oligárquica que domina o país. O espetáculo contava em tom de farsa a história de um casal de velhos, moradores de uma casa há vinte anos, que aos poucos se deteriora. A ação acontece no dia que o procurador geral irá cobrar o aluguel da casa, que os velhos não têm mais condições de pagar. Coincidentemente, aquele é o dia em que o futuro presidente será apresentado aos inquilinos. Metáfora da classe média conservadora, que apoiou o golpe de 64 e, duas décadas depois, ao perder seus privilégios, saiu às ruas pedindo Diretas Já. O espetáculo trazia uma mistura de teatro do absurdo, sessão de rock, cinema underground, poesia marginal e vanguarda plástica. Além de todas as atividades que acontecem diariamente na Terreira, o espaço oportuniza às pessoas em geral o contato com o fazer teatral. Partindo do princípio de que toda pessoa tem um potencial criador, os atuadores vão desenvolver, a partir de 1985, diversas oficinas abertas à comunidade: Teatro Livre, Experimentação e Pesquisa Cênica, Expressão e Movimento, Teatro de Rua, Máscaras e Adereços, Teatro Ritual, entre outras. A Terreira consolidou o trabalho do Ói  Nóis Aqui Traveiz.  Possibilitou aprofundar a investigação do trabalho do ator e do espaço cênico. Um espaço teatral completamente flexível e transformável de uma encenação para outra. Colocar o espectador numa situação inteiramente inédita. Levar às últimas consequências a relação entre ator e espectador. Incluindo os espectadores na arquitetura da ação. Vendo o público qualitativamente e não em quantidade, interessando mais a integração alcançada. O ato teatral requer uma considerável redução das distâncias, para que o ator possa agir diretamente sobre alguns indivíduos. Para que o encontro ocorra, é preciso que o espectador o deseje, ainda que inconscientemente.


“A VISITA DO PRESIDENCIÁVEL OU OS MORCEGOS ESTÃO COMENDO OS ABACATES MADUROS ”

 

A montagem é uma espécie de parábola sobre o momento político do país, o Ói Nóis aproveitava o fato do povo brasileiro estar em campanha pelas eleições diretas para montar ´A Visita do Presidenciável ou os Morcegos Estão Comendo os Abacates Maduros´. O espetáculo mistura farsa e drama para contar a história de um casal de velhos, moradores há vinte anos de uma as que, a cada dia, se deteriora. A dupla personifica a classe média conservadora,  que apoiou o golpe de 64 e, duas décadas depois, ao perder seus privilégios, saiu às ruas pedindo Diretas Já. A ação se passa num dia de temporal, quando o procurador vai cobrar o aluguel que os velhos não têm mais condições de pagar; casualmente, é o mesmo dia em que o futuro presidente da nação será apresentado aos inquilinos (ao povo). No meio desse enredo, aparecem outras tramas, como a tragédia de um casal sem perspectivas diante da iminência de um despejo (ele, desempregado, e ela, grávida, decidem pelo suicídio); o drama de Alice (uma garota nascida em 1º. de abril de 1964, que vive perturbada com seus conflitos íntimos); o lirismo de Adão e Eva (único momento de contato direto com a platéia, quando um casal nu vai em direção ao público para oferecer-lhe maçãs); a crueza de uma cena de tortura, paralela ao julgamento de um policial que se diz inocente. O espectador era mais um visitante que entrava na casa em ruínas para vê-la literalmente cair. No final, com a chegada do Presidenciável, uma mão gigante aparecia do teto para entregar a faixa presidencial, e o prédio vinha abaixo. O público era surpreendido por uma chuva de cacos, fluentes goteiras e muito pó. 


 


 
Autor: Luis Francisco Rebello
Fragmentos: Roberto Drumont
Direção, cenografia e figurino: criação coletiva
Iluminação: Júlio Zanotta
Sonoplastia: Jorge Gavillon
Música de cena: Banda Açúcar Branco e Banda Murruga
Filme: Marcia Lara
Confecção dos bonecos e painéis: Fábio Vale, Isabella Lacerda e Valdir Saches
Elenco: Arlete Cunha, Beatriz Britto, Eliana Quartiero, Gilmar Hermes, Horácio Borges, João Henrique Castilhos e Paulo Flores
Intérpretes em substituição: Andréa Barth e Moira Stein
Estreia: 20 de setembro de 1984
Local: Terreira da Tribo