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ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ 44 ANOS [PARTE 13]


 

Em 1987 a Tribo encenou “A Exceção e a Regra”, de Bertolt Brecht, iniciando uma trajetória de encenações para teatro de rua que vão percorrer as ruas, praças, bairros e vilas populares da cidade. Levando para o espaço público a linguagem brechtiana, a Tribo denunciava como a justiça no sistema capitalista estará sempre ao lado dos opressores. Os espectadores anônimos e passageiros das ruas eram envolvidos pelos ritmos afro-brasileiros e o dinamismo da encenação. Essa era a semente do Projeto “Caminho Para Um Teatro Popular”, circuito regular de apresentações de teatro de rua, organizado em 1988, com os objetivos de democratizar o espaço da arte, e realizar um teatro com temática social e questionamento crítico da realidade. A função do teatro de rua está em sua fusão com o cotidiano, em sua interação com a vida e as pessoas. Antes de tudo o teatro vai chegar a um público novo, inclusive a pessoas que, na sua grande maioria, nunca vão ao teatro. O teatro de rua exigiu do Ói Nóis Aqui Traveiz uma pesquisa estética que foi levada às últimas consequências. Onde surgiram elementos como o uso da máscara, a criação de bonecos de grandes proporções, a utilização da música, do canto e da dança, das pernas-de-pau, e a confecção de figurinos e adereços criativos e coloridos. Por tudo isso é que o teatro de rua da Tribo é contagiante e conquista a empatia dos mais diversos públicos. Através dos cortejos que geralmente abrem os espetáculos, o Ói Nóis Aqui Traveiz vai surpreendendo todo tipo de pessoas das mais variadas idades, que involuntariamente se vêem fazendo parte de uma roda,  onde a magia que, em algum momento da história da humanidade deu origem ao teatro,  retorna   e rompe as regras do cotidiano cinzento e tenso da cidade. Na sociedade de consumo a rua significa a libertação do teatro enquanto mercadoria, já que busca o envolvimento direto entre o público e a criação artística. Representa uma forma de escapar do sistema capitalista e do aparelho cultural, não apenas trazendo para cena uma estética e uma ética libertária, mas também uma reavaliação completa dos meios de produção dessa cultura hegemônica. Atuar nas ruas, nas praças públicas e nos parques, atuar para todos os que estão ali, de forma gratuita. Atuar como uma forma constante de se compreender e repensar a vida, no espaço onde a vida acontece com maior agilidade, diante de um público vivo, é quando o teatro torna-se revolucionário. Este teatro da vida real suprime de forma eficaz o espaço entre a arte e a vida. Um teatro a tal ponto coincidente com a vida parece prolongar, se não mesmo ultrapassar, a reivindicação artaudiana de uma cultura não distanciada da existência.

 

 


“A EXCEÇÃO E A REGRA”

´A Exceção e a Regra´ conta a história de um comerciante que tenta atravessar um deserto em grande velocidade para vencer seus concorrentes. Após despedir seu guia, o comerciante e o carregador da bagagem se perdem no deserto; ficam sem água e, quando o carregador se aproxima do comerciante com um cantil de água, o patrão pensa que vai ser atacado e atira, matando o carregador. Chegando ao seu destino,  é levado a julgamento pela viúva do carregador, mas o juiz o absolve. Em que se baseia o juiz? Não é mais crível que o carregador se aproximasse do comerciante para matá-lo do que para lhe dar água? Pois não pertencia ele a uma classe que podia, por bons motivos, sentir-se explorada nessa distribuição de água? Quanto ao comerciante, como poderia crer num ato de camaradagem vindo do carregador a quem explorava? A razão lhe diria que se achava em perigo mortal. A justiça revela que a bondade será sempre uma exceção, enquanto que o ódio e a violência constituem a regra. E, dentro do mundo capitalista, a justiça está baseada na regra. Ao final do espetáculo, o elenco forma um quadro estático, sustentando uma enorme faixa: ´Por quanto tempo existirá ainda, Justiça Burguesa?´ Adotando uma das premissas de Brecht, de que o teatro  tem que cumprir sua missão de conscientizar divertindo, o Ói Nóis incorporava ao espetáculo o elemento do riso. As cenas eram engraçadas, os personagens pitorescos e havia muito dinamismo na encenação. À ação dos personagens principais sobrepunha-se um coro de sete pessoas que musicava os acontecimentos (em ritmos afro-brasileiros: samba, afoxé, baião) e um corpo (grupo de onze pessoas) que personificava  os ambientes da cena (rio, estalagem), as figuras encontradas no caminho (lagarto, abutre) e os sentimentos da história (medo, pesar).  

 
Autor: Bertolt Brecht
Direção, figurino e adereços: criação coletiva
Música: Alex de Souza, Mário Falcão e Zé da Terreira
Elenco: Adriano Marinho, Ângela Gonçalves, Antônio Motta, Auro Azevedo, Arlete Cunha, Caio Gomes, Clélio Cardoso, Dheiser Veiga, Ênio Castro, Isabella Lacerda, Janete Berdet, Jacque Rosa, José Carlos Carvalho, Marcos Castilhos, Marcos Langranha, Maria Rosa, Miriam Pereira, Nara Mattos, Paulo Flores, Regina Perdomo, Salvador Gutterres, Sérgio Etchichury, Silvana Stein, Túlio Quevedo, Virgínia Ferreira, Zezinho Moura e Zé da Terreira.
Intérpretes em substituição: Alex Barros Cassal, Graça Carpes, Isabel Azevedo, Jarbas, João França Peixoto, Luan Cassal e Renan Costa
Estreia: maio de 1987
Espetáculo  de Teatro de Rua



 
 
 


 

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