- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Em “Ostal”, de 1987, criação coletiva a partir de um roteiro do grupo italiano Confrontação, apresentado como rito teatral, a Tribo procurou desvendar os processos esquizofrênicos que o cotidiano familiar gera nos indivíduos. Num ambiente restrito a 20 pessoas por noite e em caráter intimista, os espectadores-participantes vivenciavam os conflitos de uma mulher em sua cama de doente. Nenhuma palavra era pronunciada durante a encenação. A relação desta mulher com os demais personagens não aconteciam no plano da realidade concreta, mas apenas em sua mente. O público era envolvido por acessos, alucinações, sofrimento, onde a paciente vacilava entre o desejo de afeto e a frustração. A ligação entre as cenas de “Ostal” rompiam com a narrativa lógica e dependiam de um tipo de associação próxima da loucura ou do sonho. A performance recorria a estímulos sensoriais diversos, e as personagens eram antes “personas” buscando uma dilatação da presença e do gesto desencadeando novas conexões e novos sentidos para o espectador. Refletia alegoricamente o processo de adaptação social a que o ser humano é submetido desde a infância. “Fim de Partida” (1986) e “Ostal” (1987) receberam os principais prêmios da crítica.
OSTAL RITO TEATRAL
Em agosto de 1987, estreia Ostal, baseado no roteiro de Aldo Rostagno para o grupo italiano Cfr. Na compra do ingresso, o espectador recebe um número e é orientado a aguardar sua chamada num local semelhante a uma sala de espera de hospital. Por ordem numérica, os vinte espectadores são chamados um a um e conduzidos pelo pulso, por um ator com luvas de borracha, por um corredor estreito e escuro, revestido por tecido. No caminho, almofadas recheadas com tampinhas, esponjas, sacos de serragem, formavam desníveis a serem transpostos. Do teto pendiam fios de tule emaranhados, que se assemelhavam a teias de aranha. Ao final do corredor, o guia cobria a boca e o nariz do visitante com máscara cirúrgica e o introduzia num quarto escuro, com cheiro de éter e uma cama gigante que ocupava quase toda a sala. No centro da cama, de camisola branca, uma mulher deitada. Sentada à sua direita, uma mulher de preto que olhava fixamente cada um. Quando o último espectador entrava, o médico trancava a porta com um cadeado. Durante 75 minutos, o público assistia ao que se passava na mente da mulher, em processo de destruição e abandono. Preparado para atingir o inconsciente do espectador, Ostal não tratava a esquizofrenia como doença clínica mas como consequência inevitável do processo de adaptação social a que o indivíduo é submetido desde a infância. Havia uma salinha preparada para atender aos eventuais desmaios dos espectadores. Na sala, um alçapão se abria do teto para que descesse um casal nu que simulava um ato sexual; dois braços saíam da parede parecendo querer estrangular a paciente; depois de um blecaute ouvia-se do lado de fora do quarto uma violenta briga de casal; a mulher de preto imobilizava a mulher de branco e retirava de suas entranhas uma longa fita de gaze com que moldava uma boneca; a mulher de preto oferecia o seio à mulher de branco; a mulher de branco tocava cada um dos espectadores e em seguida se debatia contra as paredes. Não havia texto. No desfecho, através de uma janelinha, o público via uma longa mesa de jantar. Sobre as louças, a mulher de preto, despida, rolava. A mulher de branco contemplava uma foto em que se via sorrindo. Despia-se diante do público. Depois de um blecaute, a sala era iluminada e há apenas um varal com os figurinos estendidos. A montagem ficou cinco anos em cartaz e recebeu prêmios como melhor espetáculo, melhor cenário e melhor produção de 1987. Fez uma temporada de dois meses na danceteria Estação Madame Satã, em São Paulo. O crítico Alberto Guzik, do Jornal da Tarde, São Paulo, publica em 20 de outubro de 1988: “Em 17 anos de crítica, nunca passei por uma experiência tão asfixiante quanto Ostal”; “O espectador tem a possibilidade de tornar-se testemunha de um projeto que leva (acho que pela primeira vez no Brasil) o teatro de Antonin Artaud às últimas consequências”.
Roteiro: Aldo Rostagno – Grupo Cfr (Itália)
Direção, cenografia e figurino: criação coletiva
Iluminação e sonoplastia: Adriano Marinho e Paulo Flores
Elenco: Arlete Cunha, Maria Rosa, Renan Costa e Sérgio Etchichury
Intérpretes em substituição: Adriano Marinho, Beatriz Britto, Clélio Cardoso, José Carlos Carvalho, Kike Barbosa e Sandra Possani
Estreia: agosto de 1987
Local: Terreira da Tribo
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos